Pousio Zero: intensificação garante resultados em ILPF
O Seminário Catarinense sobre Sistemas Integrados de Produção reuniu mais de 500 pessoas no dia 8/11, no Instituto Federal Catarinense, em Concórdia, SC. A mensagem principal foi a intensificação da produção com base nos conhecimentos gerados em diversos projetos de pesquisas sobre sistemas integrados.
“Como profissionais de ciências agrárias, estamos diante de um desafio que, aos poucos, se mostra como oportunidade. Na universidade, aprendemos o cultivo de plantas separado da produção animal, enquanto que em sistemas integrados o profissional precisa ser multidisciplinar, integrando áreas da agronomia, zootecnia, veterinária, produção vegetal e florestal. É preciso reaprender, fazer diferente para atingir resultados diferentes”, avalia o pesquisador da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), André Soares. Segundo o pesquisador, em sistemas integrados não é possível avaliar a produtividade individual dos cultivos, já que a integração depende da intensificação do sistema: “Em ILP, o produtor colhe a cultura de verão e no dia seguinte implanta a pastagem. É o pousio zero, com o planejamento no uso das áreas, com sistemas integrados adaptados para cada realidade”, diz Soares.
No experimento instalado em Pato Branco pela UTFPR, a pastagem formada com trevo branco, trevo vermelho e azevém, serviu de alimento ao gado durante três meses. Após dessecada a pastagem, veio a semeadura do milho e da soja. Quando colhidos os cultivos de verão, a pastagem rebrotou, garantindo massa verde para entrada do gado. “Utilizamos o equipamento na última pulverização da soja para fazer a sobressemeadura do azevém. Aproveitar a mesma operação otimiza tempo e dinheiro”, exemplifica André Soares.
Integração com arroz
Na Metade Sul do RS, experimentos em parceria com o Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) mostraram que a integração lavoura-pecuária (ILP) pode aumentar o rendimento final do arroz irrigado. A rotação soja, pastagem de inverno e arroz resultou em 22% de aumento na produtividade do arroz. “Para que o ILP funcione, é preciso pensar o processo ainda na implantação da lavoura. Na pós-colheita do arroz, a drenagem, desmanchando as taipas, vai preparar o ambiente para os próximos cultivos. A resteva do arroz é incorporada com rolo faca ou arado e, somente após a correção de solo e análise de fertilidade, vai ocorrer a semeadura da soja, seguida do azevém. É um planejamento de longo prazo, pensando na rotação de culturas e diluição do investimento”, explica o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Jamir Silva da Silva.
Redução de custos
Promover o melhor aproveitamento dos recursos existentes na propriedade é objetivo das pesquisas que estão sendo realizadas pelo projeto ILPF no Instituto Federal Catarinense (IFC-campus Concórdia). A unidade de experimentação em integração lavoura-pecuária conta com seis anos de avaliações no uso de fertilizantes orgânicos sobre culturas de grãos (milho, soja e centeio) e pastagens para ovinos (consórcio aveia, azevém e ervilhaca). Uma segunda área, estabelecida há três anos, acrescentou o componente florestal (linhas de eucalipto) e gado de corte. Os fertilizantes utilizados nas duas unidades são cama de aves e dejetos suínos, presentes em abundância na região e com manejo de domínio do produtor. Os resultados de rendimento ainda estão sendo avaliados, mas dados preliminares mostram o potencial do uso de fertilizantes orgânicos: custos de adubação 22% menores com o uso de dejetos suínos e 18% menores com a cama de aves, quando comparado ao preço da adubação mineral.
De acordo com o pesquisador do IFC, Paulo Hentz, o trabalho mostrou, ainda, maior rendimento do milho em comparação com a adubação mineral: “As respostas do trabalho são resultado do maior aporte de carbono no solo”.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Juliano Corrêa, a pesquisa está avaliando agora o comportamento da soja no uso dos fertilizantes orgânicos, além do ganho de peso dos animais sobre as pastagens.
Árvores no sistema
“As árvores podem afetar a produção de forma positiva ou negativa. Não basta plantar árvores, é preciso planejar os resultados esperados”. A afirmação do pesquisador da Embrapa Florestas, Vanderley Porfírio da Silva chama a atenção para a importância das árvores nos sistemas integrados de produção.
Somente no RS são mais de 600 mil hectares com florestas, principalmente de eucalipto, pinus e acácia negra. Contudo, em 75% das propriedades rurais que possuem componente arbóreo na América Latina, as árvores estão dispersas em meio as pastagens e outros 69% são cercas vivas. “A área silvipastoril (pecuária+floresta) é utilizada junto com uma área sem árvores. Nos períodos mais estressantes, os animais vão para o silvipastoril por períodos curtos, depois voltam para a área de cria”, explica o Chefe-Geral da Embrapa Pecuária Sul, Alexandre Varela. Ele destaca que além do conforto animal, as árvores protegem as pastagens de estresses térmicos, como geadas ou estiagens, possibilitando produzir forrageiras em épocas críticas. Ainda, as árvores reduzem a velocidade do vento de 26 a 60% e a radiação solar de 50 a 80%.
“As espécies forrageiras e arbóreas têm raízes com mais lignina, o que garante melhores índices de descompactação do solo, melhor infiltração de água e aporte de carbono, fatores que impactam no rendimento e qualidade de grãos e forragens”, conclui o pesquisador da UDESC, Álvaro Mafra.
Porém, a falta de planejamento na implantação das árvores pode ocasionar prejuízos. De forma geral, as pastagens toleram 60% de sombra, assim, a implantação florestal precisa contar com a manutenção regular com desbaste e até a retiradas de árvores ao longo do crescimento. A orientação da Embrapa é implantar as árvores em linhas que facilitam a condução do rebanho e favorecem a mecanização. A disposição das árvores em curva, seguindo a orientação horizontal do terreno, especialmente em áreas de declive, ajuda a conter o escoamento e favorece a infiltração da água da chuva. Existem software no site da Embrapa Florestas para calcular o distanciamento das linhas arborizadas e orientações para implantação e manejo em ILPF.
Adaptação de tecnologias em ILPF
Para o coordenador do projeto ILPF no RS e em SC, Renato Fontaneli, pesquisador da Embrapa Trigo, a Região Sul está numa condição ambiental privilegiada para a produção agrícola: “contamos com bom volume de chuvas ao longo do ano e grande diversidade de forrageiras bem adaptadas à região”. Para Fontaneli, a região apresenta muitas variações de altitude, tipo de solo, temperaturas, radiação solar e outros que exigem do produtor a adequação das tecnologias em cada propriedade. “É preciso experimentar. Nem sempre a receita do vizinho é a melhor alternativa para o meu rebanho. Em ILPF os conhecimentos não podem ser padronizados. A interação entre instituições de pesquisa, assistência técnica e produtores traz diferentes resultados em diferentes realidades”, afirma Fontaneli.