A V Jornada de Produção Científica da Educação Profissional e Tecnológica da Região Sul teve início nesta sexta-feira (7) e prossegue até sábado (8), no Campus Concórdia do Instituto Federal Catarinense. Durante os dois dias de evento, estudantes de todos os IFs da região Sul do país, dos cursos de nível técnicos superior, apresentam 178 trabalhos científicos (uma média de 30 por instituição) nas áreas de ensino, pesquisa e extensão.
Promovido pelo IFC em parceria com os Institutos Federais de Santa Catarina (IFSC), Paraná (IFPR), Rio Grande do Sul (IFRS), Sul-Riograndense (IFSul) e Farroupilha (IFFar), a Jornada tem como objetivo promover divulgar a produção científica e promover a integração entre discentes, professores e pesquisadores das instituições participantes – conforme explica o diretor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da Propi, Eduardo Werneck. “A última edição da jornada foi em 2011. Estamos retomando as atividades com um conceito mais próximo ao contexto da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. A gente espera que essa ação, além de integrar as seis instituições, auxilie na implementação de uma nova forma de aprendizagem. Não há apresentações formais, com banner ou datashow; é na modalidade de roda de conversa, na qual as pessoas possam expor os seus trabalhos e dialogar”.
O pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFFar, Arthur Frantz, elucida melhor este conceito. “A Jornada foi concebida como um espaço em que nosso estudantes possam conhecer outros colegas que atuam na mesma área, compartilhar experiências, e levar daqui de Concórdia muito mais que conhecimentos, mas boas relações. E, por esse ser um momento de colaboração, evitamos a estratégia formal de apresentação para tentar privilegiar essas interações; para que os participantes se sintam mais à vontade para contribuir e colaborar com os projetos uns dos outros”, conta. “Não há premiação ou distinção dos melhores trabalhos; estar aqui no evento já é um reconhecimento do bom desempenho dos estudantes em suas instituições de origem”.
Iniciando a Jornada – A cerimônia de abertura foi às 14h, no auditório central do campus. A mesa oficial contou com a presença do pró-reitor de Extensão do IFC, Fernando Garbuio – representando a reitora do Instituto, Sônia Regina Fernandes; do pró-reitor de Extensão e Relações Externas do IFSC, André Dala Possa, representando os pró-reitores da área dos demais institutos; do diretor do campus Concórdia, Nelson Golinski; do professor Arthur Frantz, representando os demais pró-reitores de Pesquisa e Pós-Graduação; e da reitora do IFFar, Carla Jardim – representando os reitores das demais instituições. Houve ainda uma apresentação cultural por parte do Centro de Tradições Gaúchas Bago da Cultura, formado por estudantes de diversos cursos do campus.
“O que nós vemos aqui uma amostra do que nós temos nos Institutos Federais”, disse Garbuio. “O grande diferencial do aluno da Rede é que ele a oportunidade, desde o ensino médio, de participar de projetos de ensino, pesquisa e extensão. Muitos desses estudantes verticalizam pro curso de graduação já com uma formação diferenciada daqueles que não tiveram essa oportunidade. E isso vai se refletir na formação profissional deles, quando entrarem no mundo do trabalho ou seguirem carreiras acadêmicas”.
Em sua fala, a reitora do IFFar deu a notícia da realização, no segundo semestre de 2019, de um evento nacional de produção científica dos Institutos federais. “Vim de Brasília, onde estávamos na última reunião do Conif, na qual deliberamos pela realização deste evento, no qual vamos reunir todas as regiões do país e dar ao trabalho da Rede Federal a dimensão que ela merece e precisa. Então, pesquisadores e pesquisadoras: preparem seus trabalhos e suas malas”, conta. Assim, os eventos regionais passam a ser bianuais, realizados intercaladamente com as reuniões nacionais. Carla Jardim anunciou ainda que a sexta edição da Jornada Científica Sul será no Rio Grande do Sul, organizada em conjunto pelos três Institutos daquele estado.
Integração e conhecimento – Fernanda de Souza é aluna do curso técnico subsequente em Saúde Bucal, do campus Londrina do IFPR. Ela veio apresentar um trabalho sobre o processo de apoio do técnico em saúde bucal em pacientes oncológico do Hospital do Câncer de Londrina. “Eu vim falar sobre a relevância da práxis, que é aplicação prática do que aprendemos das aulas teóricas; sobre o processo de aplicação da laserterapia em pacientes do SUS que não têm acesso a essa tecnologia; e defender a importância das bolsas de extensão, que nos proporcionam essas experiências”, diz.
A estudante afirma que participar de eventos como a Jornada é bastante valoroso para sua formação acadêmica. “Estou ansiosa em conhecer o trabalho dos meus colegas. Pelo que já conversei com o pessoal, tem vários projetos que, embora sejam na mesma área em que a minha, são totalmente diferentes, coisas que nem imaginava. Em eventos como esse, que estar no Instituto não é apenas ir pra aula, estudar, tira nota; a gente pode fazer a diferença. Participar de projeto como estes faz com que você entenda que sua formação é algo relevante também para a sociedade”, diz.
O aluno do curso superior de Agronomia do IFFar, Rodrigo Ivaniski Della-Flora, apresentou o trabalho “Resposta do arroz irrigado à aplicação de Silício via foliar”. “É um experimento em que eu testei a aplicação de silicio para promover a produtividade da cultura”, diz. Della-Flora também afirma estar satisfeito em participar da Jornada. “Participar de eventos, em qualquer nível, sempre agrega à formação. Sempre se vive experiências novas, se conhece novas ideias e modelos de pensar e como conduzir diferentes experimentos”.
Assim com a colega do IFPR, o aluno também teve seu trabalho financiado via bolsa – algo que ele considera fundamental. “Se não fosse a questão das bolsas de ensino, seria inviável para muitos alunos conduzir suas pesquisas a campo. Por exemplo, trabalhos em culturas de verão exigem que você esteja presente mesmo nas suas férias, fazendo a manutenção. E, para isso, ter o subsídio é essencial”, ressalta.
Marieli Lapinski está no quarto ano do curso técnico de Administração integrado ao ensino médio do IFRS – Campus Osório. Ela veio apresentar um trabalho na área de Comunicação. “É um projeto de extensão que tem como objetivo apresentar à comunidade externa tudo o que acontece dentro do campus. Por meio de programas audiovisuais”
Ela conta que participar da Jornada dá continuidade a uma boa de participação em eventos de iniciação científica. “Tivemos um salão de extensão na nossa instituição, na qual o meu trabalho foi selecionado – então isso já é uma vitória. A experiência de conhecer pessoas de outras instituições está sendo muito gratificante, principalmente porque este é meu último ano; é algo que vou levar pra vida toda e que vai agrerar muito à minha carreira acadêmica”, diz. “Eu saio do Instituto e já entro no curso de Jornalismo. Então, toda essa experiência do IF – e a minha vivência dentro do projeto – vai contribuir muito com minha jornada daqui pra frente”.
Gustavo Meia de Jesus Santos é estudante do bacharelado em Engenharia Mecatrônica do Campus Rio do SUl do IFC. “Vim apresentar o criação de uma célula de carga para desenvolvimento de atletas e recuperação em fisioterapia”, diz. Para ele, participar da Jornada está sendo uma experiência produtiva. “A gente não fica só focado no nosso próprio curso; conseguimos desenvolver opiniões sobre outras áreas e fazer implementações no nosso trabalho com a ajuda dos colegas de outros campos, como Farmácia e Engenharia Mecânica. Tudo se integrando. Além de ter essa socialização entre os alunos, troca de pensamentos, de ideias divergentes mas que podem se completar… é uma experiência incrível.
Santos ressalta que o aspecto social do evento também é importante. “Li uma entrevista hoje na Folha de São Paulo que dizia que o engenheiro do futuro tem que, além de ser prático, saber se relacionar com as pessoas. Então, estamos vendo aqui, na Jornada, a evolução do meu curso na prática – e eu tenho a oportunidade de levar esse aprendizado comigo para um mercado de trabalho que pede por isso”, conclui.
Empreendedorismo em foco – Além das apresentações científicas, a programação da Jornada contou ainda com a palestra “Oncotag: Um case de inovação e empreendedorismo em ciências da vida”, ministrada pela pesquisadora e CEO da empresa, Letícia Braga. A Oncotag é uma startup da área de oncologia de precisão, que utiliza marcadores genéticos moleculares para obter melhores respostas em tratamentos quimioterápicos.
“Apresentamos na palestra a trajetória a partir de um projeto de pesquisa acadêmico, que foi meu doutorado, e como transformamos esse projeto em um produto que atende a uma necessidade de mercado”, diz. É um processo que levou cerca de 4 anos, e hoje somos uma empresa que conta com investimentos de fundos de aceleração de desenvolvimento de negócios e e fundos de participação de fomento à inovação em Minas Gerais”.
Letícia Braga afirma que existe hoje, um novo paradigma na pesquisa nacional. “Até alguns anos atrás, trabalhava-se em um contexto em que muitas vezes, a ciência era desenvolvida por si só; projetos financiados com verbas públicas em que o produto final era um artigo ou uma tese de doutorado. Após isso, veio o modelo de licenciamento dessas tecnologias para terceiros. A partir da Lei Federal de Inovação, tornou-se possível que os pesquisador de instituições públicas e privadas possa criar a tecnologia e também empreender, levar o seu produto no mercado por si só. O Brasil vive uma necessidade de inovar, de ter tecnologia de ponta desenvolvida nacionalmente.”
A CEO da OncoTag ressalta que, para que essa realidade perdure, é preciso que o empreendedorismo faça parte da formação dos profissionais. “Nós somos formados para trabalhar para os outros, para fazer concurso, para prestar serviços, mas nunca pra ter nosso próprio negócio – e isso precisa mudar. As tendências mundiais de emprego e mercado estão mudando, e nossos institutos de educação devem se adequar a essas mudanças. Nós nos tornamos excelentes pesquisadores porque temos fomento para isso nos institutos e universidades; agora precisamos ter esse apoio também para o empreendedorismo”.
Desafios da organização – Para sediar a Jornada, o Campus Concórdia criou uma comissão interna voltada para o evento. “Nós criamos uma comissão com cerca e 10 servidores, em que cada um ficou responsável por um trabalho – programação, cerimonial, alimentação, protocolo, etc”, explica a professora e coordenadora de Pesquisa do campus, Amanda Verardi. “Foi uma experiência extremamente enriquecedora. Organizar eventos é algo complexo, e saímos dessa demanda com um grande aprendizado e estimulados para realizar outros eventos do mesmo porte.
Para a professora, com o decorrer do primeiro dia de Jornada, já é possível confirmar que foi um sucesso. “O evento atendeu às nossas expectativas, especialmente quanto à grande inovação que aplicamos, que foram as apresentações em forma de roda de conversa. Essa forma de compartilhar experiências foi o mais interessante”.
O diretor do campus, Nelson Golinski, partilha dessa opinião. “A gente recebeu com muita orgulho esse desafio, e foi tudo muito bem organizado. A comunidade acadêmica do campus encampou o evento com muita vontade, e o resultado pode ser visto nesse momento” É muito satisfatório para nós sediar a jornada, uma vez que aqui estão representados os Institutos Federais dos três estados do Sul”.
A programação da V Jornada de Produção Científica da Educação Profissional e Tecnológica da Região Sul teve continuidade no sábado (8), com novas apresentações de trabalhos acadêmicos. A cerimônia de encerramento ocorreu às 15h30.
Texto e Imagens: Cecom/Reitoria/Thomás Müller